Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/292

Wikisource, a biblioteca livre

na ponta dos pés, — que jurava aos deuses ser a mulher mais linda que em sua vida conhecêra! Isto depois de ter viajado por toda a Europa e ter chegado de Hespanha enjoado, positivamente, de ver caras bellas. Palavra de honra, meninos!...

A campainha electrica deu o signal de se levantar o panno, e os homens, excepcionalmente, apressaram-se a occupar o seu logar antes de começar o espectaculo, o que fez com que a tragica podesse logo ser ouvida desde a primeira scena. Desempenhava n’essa noite o papel de Magda, a mulher soberba de independencia e energia que a traição e a infamia do homem, em vez de quebrantar em baixesas de victimas, faz erguer n’um protesto de indignação.

A actriz, soberana da Arte, dominando em todos os países onde o capricho de artista a leva, sublime bohemia, que o mundo aclama exaltado, faz vivo, arquejante de interesse, esse typo symbolico da mulher de que a sociedade fez uma revoltada e que uma vez lançada fóra do ramerrão comesinho da existencia burguesa, impossivel se lhe torna a vida entre os seus, cujas ideias a amesquinham e irritam, que ella propria escandalisa com as suas palavras e modos, de pessoa que conhece dos preconceitos sociaes o bastante para avaliar a sua hypocrisia.

Quando a Duse (Magda, a grande cantora) entra já fatigada da lucta embóra coroada de loiros em que o dinheiro lhe não faz mingua, mas soffrendo da miseria affectiva em que se vê, como filha espúria de um mundo feito de harmonia e amôr, e vem recorrer á familia, como