Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/296

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como qualquer ideia que lhes convenha aos seus fins.

— «Esses não têm fé em coisa nenhuma. Triumpham, é certo, mas a sua obra desmorona-se rapidamente, como edificio construido sobre lama. Só a obra dos verdadeiros crentes, dos sinceros, é que pode resistir e fructificar. Crês que fosse a ambição, o orgulho e a mentira dos padres, que fizeram do christianismo uma religião? Não, foi a humildade, a sinceridade e a fé dos convictos... É por isso que creio no futuro da vossa empresa e aconselho a Baronesa a fugir se não quer tornar-se tambem uma convicta...

— «Pois vou-me já, tomo o seu conselho, meu caro. Nada, que não quero dar aos meus conhecimentos o espectaculo grotesco de fazer dançar nos meus salões os criados da lavoura nem de medir pela mesma bitola a moral da cosinheira e a da grande dama...

— «A Baronesa a fingir-se o que não é! Todos sabemos que não ha ninguem melhor para os seus inferiores — contradictou Maria Helena.

— «Tratá-los bem, trato, mas julgá-los meus eguaes, com direitos e deveres como nós, isso, filho, é muito grande inovação para uma velha como eu.

— «Mas não é isso, cada um no seu logar, mas crédor do nosso respeito, tão superior no seu officio como nós no nosso.

— «Sim, eu vejo que a razão está do vosso lado. Mas... eu afinal de contas ainda me não dei mal com o mundo como elle está.

— «Para que V. Ex.ᵃ tenha essa consoladora