Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/306

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a impôr-me as suas amantes para amigas intimas — faltava-me essa vulgar consagração mundana!... É de morrer a rir, e a chorar.

Agora comprehendo tudo, os sorrisos que acolhiam os meus elogios á Candida, as phrases com dois sentidos da baroneza, as palavras trocadas a meia voz, até a tua má vontade para ella e a raiva do João, o vosso aborrecimento súbito e que tão poucos dias os conservou aqui, tudo eu comprehendo e tudo eu vejo agora!...

Tu sabes melhor do que ninguem o que tem sido a minha vida; conheces-me, pois tens a minha alma, palpitante de soffrimento, agasalhada no teu coração de verdadeira e unica amiga. É portanto escusado vir com rodeios. Demais isto é um facto consumado, uma coisa indiscutivel: — meu marido fugiu para França com umadas minhas amigas intimas. Eis a singela e fatal verdade.

E eu não encontro, Isabella, no fundo da minha alma, nada, absolutamente nada, que me faca soffrer d’este abandono. Orgulho, parece que já o não tenho! Offensa da mulher, que veio a minha casa, que me beijou, que era a primeira a dizer mal d’elle — quando eu nada me importava de procurar saber a sua vida intima — confesso-te, querida, que não chego a recebê-la. Despreso-a e lamento-a; desculpa-la-hia talvez, se fosse sincera no seu affecto; mas não é, não! Uma coquette vulgar que vae seguindo o seu capricho ou — o que é peor — a sua ambição. Não me offendeu, porque eu vivo como estranha n’esta sociedade convencional. Conheço demasiadamente este mundo para que me prenda