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as paixões dos ultimos annos, elle queria entregar em mãos de homem capaz de asestimar.

— «Emquanto a fidalguia — dizia a quem fallava na humildade do nascimento do Antonio de Mello — era coisa de que nunca lográra comer...

Era bonita a joven Josephina, bonita e sadia de corpo e d’alma, como quem fôra criada nas serras e com a natureza aprendêra a bondade natural e humana dos fortes.

Mal que a viu alegre e moça, como arbustosinho agreste que em seu tempo proprio se reveste de perfumadas flores, sem complicações de tracto, nem agasalhos de estufa, amou a Antonio de Mello apaixonadamente. Doía-lhe no entanto recebê-la acompanhada d’um valioso dote, elle que a amava com a simplicidade primitiva d’uma alma e d’um corpo que se dão em troca de outro corpo e de outra alma por egual amante.

O homem que sahira do povo mais humilde, que arrastára uma vida trabalhosa luctando pela fortuna, encontrava ainda, no seu coração de trinta e oito annos, um crepitar de paixão e um desinteresse verdadeiramente juvenis.

Confessára-lho; e tão simples, tão honestamente, que a rapariga o ficára amando toda a vida.

Foram felizes como o podem ser dois espiritos que se ligam sem se absorver, que se estimam e comprehendem, desculpando-se mutuamente.

Com a felicidade inesperada do coração, Antonio de Mello tornára-se alegre, quasi criança;