Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/311

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encontraste! Na infantilidade dos teus risos, que bom senso e conhecimento da vida tu já tinhas! Bem se podia prever a equilibrada e corajosa mulhersinha que soube fazer da sua casa um verdadeiro refugio d’almas, que da fortuna que tão felizmente lhe cahiu nas mãos fez uma salutar obra de progresso, de combate pela justiça.

Querida, querida Isabella, recordar as lagrimas que me viste chorar durante aquella consoladora convivencia de mezes, é quasi um prazer. Então ainda eu soffria, então ainda vivia. Hoje... é isto que vês.

Lembro-me agora, com uma nitidez desesperante, das tuas palavras sensatas quando se fallava em divorcio: — Para quê?... Em Portugal não ha divorcio; apenas temos o desquite, que é a prisão maior para as mulheres. Não vale a pena ir contra a opinião geral que condemna a mulher separada do marido, para tão pequeno resultado.

Como a opinião dos indifferentes me importava pouco, lembravas me então a minha familia, a minha mãe. A minha mãe!... Por ella consenti em ficar amarrada de pés e mãos a esta situação quasi infame para mim. E queres saber? N’esse tempo ainda ella poderia supportar o golpe, agora... não sei o que se dará. Tremo pela sua vida tão abalada!

Não me queixo de ti, minha joia, podias porventura imaginar que seria elle o primeiro a despedaçar escandalosamente as cadeias, que só foram pesadas para mim?

Que estupido destino o meu! Aos desesete