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era a phantasia alada que doira a existencia e que um bom casal não pode dispensar, sob pena de cahir na realidade banal que mata o amôr.

Josephina, a boa e resignada alma, com a sua maneira serena e pacificante de encarar a vida, trazia áquella felicidade um não sei quê de intimamente religioso, que infundia respeito ainda aos mais familiares.

D’essa união tão completa nasceram dois filhos. Primeiro, o João, que fôra sempre uma bella e forte criança de boas côres e moderada phantasia, como a mãe. Alegre, prompto a defender os mais fracos, o seu espirito não se perdia nas nebulosidades dos sonhos, que atormentam as crianças precocemente, doentiamente emotivas.

Oito annos depois, quando o pequeno já bocejava sobre os livros das primeiras letras, nasceu a Pillar, de uma finura, de uma graça de estatueta. O irmãosito adorava-a e ria perdidamente, quando a via nos braços da mãe procurando o seio como um animalsinho voraz, e de farta deixá-lo depois e adormecer como um anjo. Mal entrava em casa, lá ia elle, pé ante pé, se a criança estava a dormir no bercinho, afogada em rendas e cambraias, contemplá-la com um affecto que mais parecia d’uma pequena mamã. E já quando maiorsinha, João servia-lhe de protector e amigo, de promotor de todos os festejos e brincadeiras que distrahissem a irmã. E assim, ella criou-se sob o affecto carinhoso dos que a rodeavam, como avesita fragil que um nada pode matar.

Talvez mesmo por isso, desde pequenina que os nervos lhe vibravam intensamente todas as