Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/332

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pretenção ou vaidade, que o estrangeiro, evidentemente apreciador e habituado a julgar os mais raros exemplares da graça feminina, não poude deixar de manifestar no sorriso o encanto que o subjugava.

— «V. Ex.ᵃ dirá... — começou Bella para terminar o silencio.

— «Não sei bem como principiar, pois é estranho, em verdade, o motivo que me traz... — disse um pouco embaraçado.

— «Em todo o caso... — sublinhou com ironia.

— «Sim, em todo o caso o tempo urge e eu não posso deixar de dizer a V. Ex.ᵃ o que vinha pedir á dona da casa. Em primeiro logar, minha senhora, é da mais rudimentar cortezia dizer-lhe o meu nome. Chamo-me Pedro de Albuquerque. Isto decerto nada lhe diz porque estes grandes appellidos andam em todas as caras cá no nosso paiz...

— «Ah! V. Ex.ᵃ é portuguez?

— «Não e sim. Sou realmente portuguez de origem, e brasileiro de adopção. Mas como qualquer dos dois paizes me agrada menos do que Paris, foi lá que fixei residencia. E foi lá tambem que conheci ha alguns mezes uma pessoa, um homem que... por certo ainda deve interessar vivamente a amiga de V. Ex.ᵃ

— «Não me parece que exista hoje algum homem em Paris que disperte interesse a minha prima — respondeu ella friamente.

— «Um homem que foi, que é ainda, porque no nosso bello paiz não ha a lei redemptora do divorcio, o seu proprio marido — continuou sem deixar o tom de ironia que lhe era habitual.