Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/339

Wikisource, a biblioteca livre

XX


— «Meu pae?! — perguntára Bella n’um grito que participava da angustia, da surpreza e da alegria. Um grito que dizia claramente o complicado drama psychologico que era n’ella a lembrança d’esse homem, muito amado no silencio do seu coração, que a sociedade lhe mandava despresar como criminoso e que a sua razão conseguira desculpar, ou mais, definir como um symbolo d’essa mesma sociedade.

Passado o primeiro instante de indecisão, e emquanto a Viscondessa, pouco attenta a esta scena, sahira a ordenar á instalação do doente e o seu cuidadoso transporte da carroagem, venceu em Bella o amor enthusiastico que em tempo lhe inspirára aquelle pae galante e pouco escrupuloso, e correndo para elle apertou-lhe calorosamente as mãos e offereceu aos seus beijos as faces molhadas de lagrimas.

— «Querida Bella, és ainda a minha filha, a mesma alma generosa, a caprichosa e louca phantasista que me adorava, o unico amôr da minha vida!... — Chorava em soluços de criança, o que lhe dava um aspecto de velhinho dôce.