Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/350

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onde a Viscondessa mandara servir, já senhora de si, n’aquelle bem estar e quasi alegria que se apodera logicamente dos que, cançados de ver soffrer, saem por momentos de junto dos doentes, conversava, contava coisas, procurava mesmo mostrar a sua graça um pouco mordente.

— «Ganhei muito dinheiro no Brazil — dizia — mas emquanto a fortuna me enchia os cofres de dinheiro suado por milhares de desgraçados, que existem para o unico prazer dos felizes, eu não philosophava sobre estas pequenas bagatellas sociaes, claro! Sonhava, como todo o brazileiro que se presa de civilisado, em voltar á Europa, em habitar Paris. Paris, minha Bellasinha — dizia descascando com subtil delicadeza uma laranja doirada, que lhe pôs galantemente no prato — é a segunda patria de todo o brazileiro que se honra. Portugal é a terra de gallegos, embora seja o dos nossos paes, embora seja a mais bella, embora seja o paiz que mais nos ama como irmãos, embora o Brazil seja ainda para o portuguez a velha terra amada, refugio de Portugal, onde se vive e fica como se nossa fosse, não a defraudando como colonisadores vulgares que, fortunas feitas, ala para suas casas! com a riqueza das terras que lhes deram asylo.

— «Ó papá, mas tu devias escrever isso, que é realmente justo, talvez se podesse fazer alguma coisa... — respondeu Bella sempre sincera, sempre misturando o idealismo com a prática.

— «Escrever para quê?! Cuidas que se convencem povos com livros?... demais, que auctoridade