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O que n’um individuo lhe parecera defeitos imperdoaveis podera vê-los reviver no outro tornados virtudes.

Bella, feita arbitra da questão que mais de perto a tocava, foi de opinião que o pae se não rehabilitasse. «Para quê — dizia ella — se não é o respeito pessoal pela sociedade que o leva a isso e tão sómente o egoismo? Para que entregar esse dinheiro, ganho por um trabalho que nada lhes devia, e que iria ser esbanjado, como dinheiro de jogo, inutil ou criminosamente?

Respondendo á Viscondessa, que se inclinava pela rehabilitação, Bella opinava ainda:

— «É um preconceito, Maria Helena, e é preciso revoltarmo-nos contra elles. Não sou eu hoje exactamente o que seria amanhã se meu pae fosse proclamado a mais illibada das creaturas? O facto deu-se e a nossos olhos, de todos os que tenham consciencia, tem a sua desculpa logica. O que poderá ganhar a humanidade, com o dinheiro entregue a quem d’elle só tirará motivo de inutil goso, em existencias perfeitamente parasitarias, aos cumplices de todo o mal que o victimou?...

— «E aos que mais severamente me julgaram e abocanharam o meu nome, dize... — respondeu o pae.

— «E o que vale a honra que se compra a dinheiro, querida?

— «A Bella tem razão, prima — terminou João. — É preciso que se faça d’esse sentimento que nobilita o homem uma ideia mais alta. E é para uma nova maneira, mais humana, mais justa, e