Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/361

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— «Que tolice! Para que queres que elle viva?

— «Sei lá!... É uma loucura, mas ainda penso que ha esperança...

— «Ora, Maria Helena, isso não é teu. Não sabes o que é um cancro, não sabes que o que alli está já pouco é mais do que podridão de cadaver?...

— «Sim, sei isso tudo, mas não posso ter essa visão clara e sem illusões nem esperanças que tu tens...

Passados instantes, tornou a Viscondessa:

— «O que me esperará ainda depois d’isto, Bella?! minha mãe estava hoje tão nervosa, parece que d’alguma coisa suspeita.

— «Isso sim, naturalmente é a estranhesa que lhe causa o movimento desusado cá por baixo, talvez um pouco de sobresalto pelas tuas frequentes ausencias.

— «Custa-me tanto representar serenidade quando estou com ella! Hontem perguntou-me se estava alguem de fóra cá em casa.

— «E tu?

— «Disse lhe que não estava ninguem, e não foi mentira, não é verdade?

— «Mentira... não foi. — E pensou comsigo: para ti, elle não deve ser ninguem e a magua que imaginas sentir não é a da alma ferida no seu amôr, é a piedade natural por tudo quanto é soffrer...

Uma dôr mais violenta fez o moribundo levantar-se n’uma crispação de todos os membros e os seus olhos fixaram-se no fauteuil onde já tinha passado alguns momentos, quando