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vinham sollicitar-lhe os maiores e mais abusivos favores. Foi assim que o pequeno Emygdio, companheiro de João em instrucção primaria, se valêra d’um affastado parentesco para pedir o seu auxilio e continuar a estudar.

Conhecendo-lhe sagacidade e uma grande e tenaz vontade de subir, sympathisou com o rapaz e mandou-o para o collegio onde o filho fazia os preparatorios na mais alegre despreoccupações.

Quando vinham a férias, João apresentava o companheiro como modelo dos estudantes, não lhe regateando elogios, apesar de lhe não seguir o exemplo.

Macambuzio como um aldeão espantado, humilde, mal vestido, não despertava senão despreso á Candida. Emquanto a prima o tratava com a affabilidade que merece o companheiro e amigo d’um irmão, ella olhava-o desdenhosa, com o despreso com que tratava os inferiores em posição, vingando-se n’elles da sua propria inferioridade.

Mas o Emygdio não ligava importancia a tal coisa; tinha, como ella, um só desejo, um unico horizonte se abria á sua pesada imaginativa de ambicioso vulgar — subir, ser alguem. Para isso estudava, que não para saber. Agarrara-se aos livros com a persistencia estreita e contumaz d’um homem que por aquelle caminho intentou trepar para o futuro de gosos e de vaidades satisfeitas de que a pobresa e a humildade de posição o tinham affastado até ahi. Com os olhos fitos na futura grandeza pouco se lhe dava com as humilhações da hora presente.