Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/39

Wikisource, a biblioteca livre

Porque não? Se a filha o amava tanto, e elle parecia tão bom, tão sincero, tão intelligente; porque razão se opporiam?

— Ser pobre não era motivo para recusas, pois que a pequena tinha, graças a Deus, o bastante para os dois... — dizia o pae satisfeito por ver na escolha da filha uma sinceridade e desinteresse que toda lhe transmittira com o seu sangue salubre de generoso plebeu.

De maneira que a Pillar passára do desejo á realidade, n’um deslumbramento de sonho, que a tornava a mais ditosa das mulheres.

A alegria radiosa d’um grande amôr que se julga correspondido e não tem preoccupação que lhe empane o fulgor, fazia d’ella a noiva mais adoravel que um homem de espirito e de coração poderia desejar. O Emygdio mostrava-se d’uma correcção e d’um enthusiasmo, que talvez fossem sinceros, no seu papel de noivo feliz e enamorado.

Porque, se era verdade que intimamente não sentia a paixão que aparentava, tambem lhe não era indifferente a rapariga, que alem de rica e bem educada tinha a intelligencia e a graça que conveem á mulher d’um grande politico, que ambicionava vir a ser.

Não sentia por ella impetos de paixão, como ainda os não sentira por outra qualquer. A ambição de subir, aspiração exclusivista e absorvente, parecia ter-lhe embotado toda a affectividade do seu ser.