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e punha-lhe nos ouvidos uma zoeira de atordoamento, cascalhavam os dentes uns contra os outros, todo o seu fragil organismo se debatia n’uma crise de nervos assustadora.

Teve medo de morrer alli, e sob o esforço, pela pressão violenta da propria dôr, conseguiu entrar e fechar a porta como a encontrára, e depois, aos solavancos, desequilibrando-se, esbarrando nos moveis, chegou á cama onde se metteu mais por habito do que pelo claro juizo do que fazia.

Quando a Candida recolheu já não estava em estado de a sentir; e ella, nada ouvindo de anormal, julgou que mais uma vez a aventura passaria despercebida.

De manhã a febre era intensa e o delirio hallucinado. O dr. Ramalho e o Vilhegas, chamados a pressa, olharam se preoccupados, n’uma clara demonstração de desânimo. Ambos os pulmões estavam atacados e a pleuresia manifestava-se com a violencia d’aquellas de que só um prodigio póde salvar a doente.

Salvaram-na com effeito, á força de cuidados e desvelos; como que a arrancaram á morte, n’uma lucta braço a braço travada.

O Vilhegas foi o mais cuidadoso enfermeiro, não se deitando, não comendo senão de pé ao canto d’uma meza, alli mesmo no quarto de vestir.

A Candida, presentindo que a doença era mortal, teve um momento de orgulhoso triumpho, mas calára-se, fingindo esquecer o Emygdio, affectando um enorme interesse pela doente. Não queria escutar os tios que a mandavam