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Infantil por vezes, muito tolerante para os paes e para a velha Engracia que a acompanhava sempre como pessoa da familia, que quasi já o era pela quantidade d’annos que servia a casa, deixava que a boa velha a entretivesse como em criança a contar historias, visto que o dr. Ramalho a prohibira de todo o trabalho intellectual — nada que a emocionasse!...

— «Conta lá, Engracia — dizia a sorrir vagamente, os olhos esquecidos a fixar qualquer coisa — conta aquella historia d’uma princeza que morreu d’amôr...

— «Ora, ora! Sempre a mesma não tem graça, menina! Agora hade ser a do «Bernal Francez».

— «Pois sim, a que tu quizeres... — No fim do rimance, que a velha entoava com modalidades de voz apropriadas:

— «Filhos que d’ella tiveres
Ensina-lhe melhor que a mi.
Que se não percam por homens,
Como eu me perdi por ti...»



Ella sorria ainda, com o mesmo vago sorriso e o mesmo olhar fixo, enternecidos de tantissima tristeza...