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porque a julgavam muito mal, em estado desesperado...

Sabia-se condemnada, e comprazia-se em ver o Vilhegas soffrer sósinho, na impossibilidade de a curar; e elle, vaidoso, preferia tambem ser o unico a tratá-la para assim ganhar o terreno que sentia esboroar-se-lhe sob os pés. Queria illudir-se, não vendo que a noiva tinha na face, quasi cadaverica, um sorriso torturado de quem tudo comprehendia; e morria vingada porque a sua morte era o castigo d’elle. Á Candida sabia bem que o não deixava; conhecia-o agora ambicioso e vulgar tal qual era, incapaz de se sacrificar por uma mulher ou por um interesse que não fosse exclusivamente seu.

Morria, a pobre, mais por ter visto morrer o seu ideal do que pela doença que lhe consumia o corpo.

Não lhes dizia nada, sentindo um mortal prazer em vê-los estorcer-se na incerteza e no pavor. Crueldade verdadeiramente humana e bem desculpavel a quem soffrera esse despedaçar de illusões em que corpo e alma se lhe caem esphacelados.

Tinha dias d’uma passividade dolorosa em que era impossivel, mesmo á propria mãe, arrancar-lhe uma palavra ou um gemido; outros em que fallava e ria, mas de tal maneira confrangida e amarga, que antes a preferiam nos dias de maior tristeza.

Tudo n’ella se transformára ou modificára. O proprio affecto pela mãe, que era d’antes mais respeitoso do que carinhoso, tornára-se n’um grande amôr apaixonado de quem se refugia,