Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/54

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mortalmente ferido, no logar em que a acolhida é mais amoravel e certa. Queria-a ao seu lado, sem fazer nada, toda embebida a olhá-la, enchia-a de caricias, e atormentava a com as palavras de mais desconsolador desânimo.

— «Oh mãesinha, — dizia lhe um dia — se não fosse o João, pedia-te, e ao papá tambem, para morrerem commigo. Querias?!...

— «Oh meu anjo, mas tu não hasde morrer. Para que pensas n’essas tolices? Não vês o que diz o Vilhegas? A tua doença tem muito de nervoso, hade passar, verás!...

— «Pois é, eu sei... mas dize: gostarias de morrer commigo?

— «Oh se gostava! Que maior felicidade pode haver para uma pobre mãe?!... Não deixar n’este mundo egoista e mau os filhos do seu coração, não os vêr partir levando-lhes a alma?!...

— «Pensas como eu, somos bem irmãs no sentir! Se tivesse filhos... Oh! se tivesse um filho!... — os olhos enchiam-se-lhe de lagrimas, com uma grande magua de virgem que sente que todo o seu ser se revolta vendo-se privada injustamente da mais alta, nobre e bella das alegrias femininas, o orgulho de ser mãe. — Olha, se eu tivesse um filho havia de amá-lo assim.

Ficava-se horas esquecidas deitada sobre os joelhos da mãe, não podendo sentir nem o barulho d’um relogio sem gritar que lhe espetavam alfinetes no cerebro. De dia para dia peorava e a irritabilidade nervosa augmentava a ponto de a pôr a cada instante em crises de soluços e lagrimas que lhe avermelhavam a bocca com o sangue que os pulmões não comportavam já.