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n’essa amorosa noite de outomno, a ultima em que estivera com a Candida, aquella em que a Pillar adoecêra!...

Do quarto da doente vinha um murmurio de vozes, que se differençavam. Todas as vezes que a da Pillar, um pouco rouca, já estortorosa, se ouvia, elle enterrava as unhas nas palmas das mãos, n’um desespero de vencido.

Ella soluçava n’esse momento, deitando os braços ao pescoço da mãe como se quizesse agarrar-se ainda á vida que lhe fugia:

— «Soffro, soffro muito!... Vão chamar o papá! Quero ver o João... Tenho medo, mãe, tenho medo!...

— «Medo de quê, filhinha? Estou eu aqui, não vês?... — respondia-lhe estrangulando os soluços a triste mãe.

— «Não sei!... Tenho medo de tudo!... Queria morrer sem ver chegar a morte!...

— «Não hasde morrer, meu anjo! Deus terá piedade de nós!...

Hallucinada, reerguendo-se da cama, respondeu arquejante:

— «Não lh’o peças, ouviste? Podia attender-te, e eu não quero viver, não quero!...

Vendo a angustia da mãe cahiu em si, e rouquejou um soluço de perdão.

— «A Candida? — inquiriu n’um cicio, d’ahi a momentos.

— «Está lá dentro. Tráta-la tão mal, que a pobre menina não se cança de chorar.

— «É da doença,... Trato mal todos, a ti tambem.

— «Não digas isso.