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V


O sol fôra inclemente em todo esse dia de julho.

Anoitecia, e, apezar d’isso, nem a mais leve viração se levantára consoladora a arrepiar, n’um trémulo de caricia, a folhagem das arvores, que tinham o banal aspecto de plantas de folha pintada a que o tempo e a poeira debotára a côr.

Na paysagem de serras e fraguedos, que o homem conseguiu cultivar e esplanar em sucalcos successivos, os restolhos punham manchas de oiro no verde sombrio de agreste vegetação; e o céo, d’um azul que o proprio calôr velára, tornára-se vermelho sanguineo, agora, que o sol desfallecia no poente.

Os jornaleiros recolhiam silenciosos aos casebres, sem riso ou cantiga que alliviasse penas, mortificados pela trabalheira rude das ceifas e malhas sob a rudeza d’um sol impiedoso. Nem as raparigas na fonte gargalhavam, como de costume, emquanto a agua, correndo muito lenta e diminuida, lhes enchia os cantaros de barro.

Só muito ao longe, pelas quebradas da serra,