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Sempre era um diabrete! Mais traquinas inda não vi! A mana é que não, sempre foi um peringalhinho que não prestava para nada. O que ella queria era sentar-se ao pé de mim a costurar ou a ler aquelle meu livro da Felor de Maria, do Renhónhó e da Cúrúja. Não se lembra, ás vezes ao serão ao pé da brazeira? Um botãosinho d’aquelles tinha uma pausa na leitura caté a gente chorava com as fallas do principe Rodolpho.

Os Mysterios de Paris, com suas gravuras baratas, e a cartilha do Mestre Ignacio eram toda a bibliotheca da sr.ᵃ Joaquina Ritta. A muita leitura de romances e casos sentimentaes, parece que embota o coração, pois a bôa mulher possuia sómente aquella enredada historia que relia amiudadas vezes com a alma confrangida e os olhos distillando amargo pranto pela desgraçada Flor de Maria. Alli havia conhecimentos e tirava maximas para todos os casos da vida.

Já disse, não sei quem, que um só livro bem meditado é thezoiro inexgotavel.

— «Lembro me de tudo, lembro-me!... E com saudades, sr.ᵃ Joaquina, que só eu sei!... e os olhos de João velaram se de lagrimas.

— «Não falles n’essas coisas — reprehendeu o Domingos. Isto de mulheres estão sempre a dar co’a lingua nos dentes.

— «Tens razão, tens, mano. É que sempre foi uma disgracia!... Nem me vai d’aqui, até se me dá um nó na greganta quando penso n’aquella menina!... Mas tem razão, não fallêmos em coisas tristes. Ora diga-me, menino João, a mãesinha como vae, bôa, sim?