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— «Acompanho-te; hontem não pude lá ir porque tive uma visita longe, amanhã vem tua prima, naturalmente tambem de lá vão á estação, e é provavel que não tenha tempo de ir até lá antes da noite...

Despediram se do Domingos e sahiram conversando.

— «Ainda bem que vae! Acho a minha mãe tão mudada, tão triste!...

— «Não admira. A dôr de teu pae foi mais violenta; quando cheguei tinha tua irmã acabado de expirar, vi-o perdido, convenci me que endoidecia. Depois resignou se um pouco... Tua mãe não! Não perdeu aquella serenidade mortificada, que não ha meio de consolar, só sendo tu que o possas fazer.

— «Pobre mãe! Eu consolá-la não poderei, sabe? Quando penso que a minha irmã, a Pillar, aquelle encanto de graça e intelligencia é já a esta hora um punhado de ossos ou, peor, uma horrivel podridão que nos causaria nauseas a nós mesmos que a adorámos em vida e que a não podemos esquecer em morta!... É horrivel, é para endoidecer, doutor!

— «Ó João, vê lá, sê rasoavel. Um desespero d’esses não é para uma intelligencia culta como a tua, para uma razão clara.

— «Não ha intelligencia para o soffrimento, meu amigo! Eu sei que ella já não existe, que da sua pessôa que tanto nos encantou já nada vive senão a lembrança na nossa alma; mas vejo-a em toda a parte tal qual me dizem que ella viveu nos ultimos tempos; oiço-lhe a voz arquejante, que chamou por mim; segue-me,