Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/72

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— «Não ha mais horrorosa profissão, você tem razão — respondeu sorrindo com bonhomia o medico.

— «Pois sim, mas supponhâmos por um instante que estava bôa como parecia, até aos seus olhos perspicazes de profissional. O que temos? Uma pessôa que se deita sã e accorda com uma pleuresia dupla. Estou fallando com serenidade, bem vê. É crivel que a apanhasse mettida na cama?

— «Não é natural que chegasse á janella, que apanhasse uma corrente de ar, que se descobrisse!?...

— «É possivel que a Candida dormindo no mesmo quarto não sentisse nada?

— «Gente nova, sem cuidados, tem o somno pezado.

— «Não é isso que ella diz. E depois, o que me diz você a essa pulseira da Candida que a Engracia encontrou no caramanchão na manhã seguinte? Já não quero dar ouvidos á opinião da velha, que diz tê-la visto córar como lacre quando lh’a entregou.

— «Ora, coisas da Engracia; nada mais natural do que a rapariga tê-la perdido de tarde...

— «Pode ser... Pois se eu tivesse a certeza! Mas o que o doutor não sabe, é que o Manuel lavrador, que sahiu de noite para amanhecer na matta do rio onde ia buscar lenha, disse ter visto saltar a grade do jardim um homem com um varino. Sabe que o Emygdio trouxe um de Coimbra e usa-o muitas vezes, principalmente á noite. E se fosse ratoneiro, sabe que a Favorita não é para brincadeiras...