Página:Ambições (Ana de Castro Osório, 1903).pdf/91

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— «Ah, isso sei por experiencia... de perder. Muitas vezes em Coimbra me pediram dinheiro para ellas.

— «E não ganhou nunca?

— «Creio que não, porque nunca mo deram. — Respondeu já senhor de si, vaidoso por se ver recebido com tanta expansão pela filha do grande politico, cujo lendario talento era ainda ponto de fé, até para os adversarios.

— «Parece incrivel que não saiba jogo algum. Je ne crois pas!

— «É tão completa a minha ignorancia que até me parece que serei incapaz de vir a aprender.

— «Nem o bluff?

— «Esse menos do que nenhum, nem mesmo sei o que é.

— «C’est incroyable! É um jogo d’enganos; só pelas cartas serem differentes já tem graça. Pode ganhar-se sem ter jogo nenhum, é questão de finura. Olhe, o papá ganha sempre e com jogos ordinarissimos. Engana toda a gente.

— «Realmente sou um grande ignorante. Preciso aprender algum d’esses jogos, já não digo todos...

— «Deveras? Então eu ensino-o...

— «Pois desde já prometto ser o mais submisso dos discipulos.

— «A sério?

— «Muito a sério.

— «Oh, mas é delicioso!... Aprenderá comigo todos os jogos, sim!?...

— «Todos que V. Ex.ᵃ souber.

— «Mas se eu sei todos! Vamos já hoje começar a lição?