Vem de longe, chega á porta
Do afamado capitão;
Deixa a lança e o cavallo,
Entra com seu coração.
A noiva que elle lhe guarda
Moça é de nobre feição,
Airosa como agil corça
Que corre pelo sertão.
Amores eram nascidos
Naquella tenra estação,
Em que a flor que hade ser flor
Inda se fecha em botão.
Muitos agora lhe querem,
E muitos que fortes são;
Niani ao melhor delles
Não dera o seu coração.[1]
Casal-os agora, é tempo;
Casal-os, nobre ancião!
Limpo sangue tem o noivo,
Que é filho de capitão.[2]
- ↑ Nanine é o nome transcripto na Hist. dos Ind. Cav. Na lingua geral temos niaani, que Martius traduz por infans. Ésta fórma pareceu mais graciosa; e não duvidei adoptal-a, desde que o meu distincto amigo, Dr. Escragnolle Taunay, me asseverou que, no dialecto guaycurú, de que elle ha feito estudos, niani exprime a ideia de moça frantina, delicada, não lhe parecendo que exista a forma empregada na monographia de Rodrigues Prado.
- ↑ Os Guaycurús dividem-se em nobres, plebeus ou soldados,
e captivos. Do proprio texto que me serviu para ésta composição
se ve até que ponto repugna, aos nobres toda a alliança com
pessoas de condição inferior.
A este propósito direi a anedocta que me foi referida por um distincto official da nossa armada", o capitão de fragata Sr. Henrique Baptista, que em 1857 esteve no Paraguay commandando o Japorá, entre o forte Coimbra e o estabelecimento Sebastopol. Ia muita vez a bordo do Japorá um chefe guaycurú, Capitãosinho, muito amigo da nossa officialidáde. Tinha elle uma irmã, que outro chefe guaycurú, Lapagata, cortejava e desejava receber por espôsa. Lapagata recebera o titulo de capitão das mãos do presidente de Matto-Grosso. Oppunha-se com .todas as fôrças ao. enlace o Capitãosinho. Um dia, perguntando-lhe o Sr. H. Baptista porque niotivo não consentia no casamento da irmã com Lapagata, respondeu o altivo Guaycurú:
— Opponho-me, porque eu sou capitão por herança de meu pae, que ja o era por herança do pae delle. Lapagata é capitão de papel.