Página:Ao correr da pena.djvu/144

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Como o indivíduo, a nação passa por todas as vicissitudes da experiência, vai da infância à velhice, do mal ao bem, sofre todas as alternativas da fortuna. Como o homem tem o germe de todos esses nobres sentimentos que vivem no coração, fortifica-os pela união, engrandece-os pelo entusiasmo e os transmite pela tradição.

Como nós, o povo sente todos os afetos, curte todas as dores, experimenta todos os estados da vida. Como nós, ama, odeia, chora, ou ri; é um pai ou um filho, um amigo ou um inimigo; é um menino frágil que precisa ser guiado, um delinqüente a quem se inflinge o castigo, e muitas vezes um soberano que dita a sua vontade e impõe a lei.

Por isso há vinte e nove anos, no dia de ontem, a nação brasileira vinha aos pés de um berço saudar o nascimento de um menino com toda a efusão do homem que contempla o seu primeiro filho. Durante quinze anos serviu-lhe de pai; e em todo esse tempo nem uma só vez se desmentiu esse amor paternal que a nação votava ao seu Imperador ainda na infância.

Veio o ano de 1840. À infância segui-se a juventude; o berço foi substituído por um trono. A nação brasileira veio então, não mais como um pai e sim como um depositário fiel, restituir a coroa e o cetro que lhe foi confiado. A cena ia mudar-se: o amor,que um dia fora paternal, começava a envolver-se do respeito que inspira o poder e a majestade.

Deixemos ainda correr o tempo; cheguemos ao dia de ontem; vinte e nove anos apenas nos separam, porém a mudança é completa. Sabeis o que significam essas festividades que por toda a extensão do país celebram o dia 2 de dezembro? Sabeis que sentimento exprimem essas manifestações espontâneas da nação, por ocasião do aniversário do seu monarca?

É o povo brasileiro que, como um filho