Página:Ao correr da pena.djvu/199

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Muitas coisas se preparam ente ano para os três dias de carnaval. Uma sociedade criada o ano passado, e que conta já perto de oitenta sócios, todos pessoas de boa companhia, deve fazer no domingo a sua grande promenade pelas ruas da cidade.

A riqueza e luxo dos trajes, uma banda de música, as flores, o aspecto original desses grupos alegres, hão de tornar interessante esse passeio dos máscaras, o primeiro que se realizará nesta corte com toda a ordem e regularidade.

Quando se concluir a obra da Rua do Cano, poderemos então imitar, ainda mesmo de longe, as belas tardes do Corso em Roma.

Entretanto a sociedade teve já este ano uma boa lembrança. Na tarde de segunda-feira, em vez do passeio pelas ruas da cidade, os máscaras se reunirão no Passeio Público, e ai passarão a tarde, como se passa uma tarde de carnaval na Itália, distribuindo flores, confete, e intrigando os conhecidos e amigos.

Naturalmente, logo que a autoridade competente souber disto, ordenará que a banda de música que costuma tocar ao domingo guarde-se para a segunda, e que em vez de uma, sejam duas ou três.

Confesso que esta idéia me sorri. Uma espécie de baile mascarado, às últimas horas do dia, à fresca da tarde, num belo e vasto terraço, com todo o desafogo, deve ser encantador.

O que resta é que as nossas patrícias, todas mimosas e aristocráticas como são, não se deixam levar de velhos prejuízos, e continuem a temer a simples vista de uma máscara como de uma coisa perigosa.

Todos os membros da sociedade são pessoas delicadas e do mais fino trato; e por conseguinte podem ter certeza que quaisquer palavras, qualquer galantaria, não serão capazes de ofender nem sequer uma suscetibilidade.

Assim, pois, cessem estes escrúpulos. Quando vos oferecem com tanta amabilidade uma bela ocasião de gozar de algumas horas de prazer, não está bem da vossa parte uma recusa