Rio, 25 de fevereiro
Foi-se o carnaval. Passou como um turbilhão, como sabá de feiticeiras, ou como um golpe infernal.
Nesses três dias de frenesi e delírio a razão fugiu espavorida, e a loucura, qual novo Masaniello, empunhou o cetro da realeza.
Ninguém escapou ao prestígio fascinador desse demônio irresistível: cabeças louras, grisalhas, encanecidas, tudo cedeu à tentação.
Entre as amplas dobras do dominó se disfarçava tanto o corpinho gentil de uma moça, travessa, como o porte grave de algum velho titular, que o espírito remoçava.
Dizem até que a política - essa dama sisuda e pretensiosa - se envolveu um momento nas intrigas do carnaval, e descreveu no salão uma parábola que ninguém talvez percebeu.
Deixemos, porém, dormir no fundo do nosso tinteiro esses altos mistérios que se escapam à pena do folhetinista. Já não estamos no carnaval, tempo de livre pensamento - tempo em que se pode tudo dizer - em que é de bom gosto intrigar os amigos e as pessoas que se estimam.
Agora que as máscaras caíram, que desapareceu o disfarce, os amigos se encontram, trocam um afetuoso aperto de mão