Página:Ao correr da pena.djvu/217

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É tempo, porém, de voltarmos ao carnaval, que preocupou os espíritos durante toda a semana, e deu matéria larga às conversas dos últimos dias.

Entre todos os festejos que tiveram lugar este ano cabe o primeiro lugar à sociedade Congresso das Sumidades Carnavalescas, que desempenhou perfeitamente o seu programa, e excedeu mesmo a expectativa geral.

No domingo fez esta sociedade o seu projetado passeio pelas ruas da cidade com a melhor ordem; foi geralmente recebida, nos lugares por onde passou, com flores e buquês lançados pelas mãozinhas mimosas das nossas patrícias, que se debruçavam graciosamente nas janelas para descobrirem entre a máscara um rosto conhecido, ou para ouvirem algum dito espirituoso atirado de passagem.

Todos os máscaras trajavam com riqueza e elegância. Alguns excitavam a atenção pela originalidade do costume; outros pela graça e pelo bom gosto do vestuário.

Nostradamus - uma das mais felizes idéias deste carnaval - com o seu longo telescópio examinava as estrelas, mas eram estrelas da terra. Um Merveilleux dandinava-se na sua carruagem, repetindo a cada momento o seu c'est admirable! quando a coisa mais incrível deste mundo é a existência de um semelhante tipo da revolução francesa.

Luis XIII, livre do Cardeal de Richelieu, tinha ao lado uma Bayadère, e parecia não dar fé do seu rival Lord Buckingham, que o seguia a cavalo no meio de um bando de cavaleiros ricamente vestidos.

Esquecia-me dizer que ao lado do Merveilleux ia um Titi de marinha, que atirava concetti em vez de confetti. Era o mais fácil de conhecer, porque a máscara dizia o que ele seria se as moças que o olhavam fossem cordeirinhos.

Em uma das carruagens iam de companhia Temistovles, Soulouque, Benevenuto Cellini, Gonzalo Gonzáles, quatro personagens que nunca pensaram se encontrar neste mundo, e fazerem tão boa amizade.

Se fosse possível que Temístocles e Benevenuto Cellini passassem esta tarde por uma das ruas por onde seguiu o préstito,