Página:Ao correr da pena.djvu/230

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Que força de dialética, que lógica de aço! Os franceses têm as epices; logo nós devemos conservar as custas. Pobre genuense! Que eras tu à vista deste portento?

E eu animei-me a tocar na arca santa, no sagrado paládio, no regimento das custas? Uma obra elaborada pelas sumidades pretorianas pode ser discutida aí por qualquer moço que ainda não tem, e nem quer ter, o cHarlatanismo necessário para se fazer alguma coisa?

Fechem-se as câmaras; mandem-se os senadores e deputados passear à Europa em missão especial ou geral; acabe-se de uma vez com a imprensa e com a tribuna. Não percamos o tempo, que é precioso. O ministro fará as leis, e, tendo-as feito, não haverá que retrucar, magister dixit.

Santo regime! Quando te veremos em inteiro vigor, para felicidade do país, para sossego e a paz do governo? Então a marcha da administração se aperfeiçoará. Os ministros serão os únicos que terão o direito de saber alguma coisa; e, depois deles, só os que estiverem dispostos a defende-los cegamente, sem critério e sem consciência.

Os outros, aqueles que julgam do seu dever expor francamente uma opinião contrária, mas que nada tem de ofensiva ao caráter do ministro, aqueles que entendem que a censura leal é a prova mais evidente da sinceridade de uma aliança de idéias e de princípios, estes serão classificados no rol dos ignorantes, porque não receberam de algum gênio engarrafado o placet da ciência e do estudo.

Assim, pois, o dito por não dito. O regimento das custas é uma obra perfeita, tão perfeita, que, sendo publicado a cinco deste mês, no dia oito, isto é, três dias depois, o presidente da relação se viu obrigado a oficiar três vezes ao ministro da justiça sobre a inteligência de algumas de suas disposições.

A razão disto não é a que muita gente supõe, não é o sentido dúbio e confuso das palavras empregadas. Qual! os homens são imperfeitos; e por isso não podem compreender toda a sabedoria daquele novo mandamento do monte Sinai, daquela lei das Doze Tábuas.