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Rio, 28 de abril

Que linda noite, meu Deus!

Fazia um luar magnífico. As estrelas brilhavam no azul do céu. As brisas apenas murmurejavam entre as sombras das árvores.

Era uma noite de abril, uma dessas belas noites da nossa terra, noites de poesia e de romance.

Estávamos no Passeio Público. Éramos dois, e conversávamos sobre tanta coisa, fazíamos tantos sonhos acordados, tantos poemas de imaginação, que nem sei dizer.

Há muita gente que prefere o dia à noite. Eu, ao contrário, sou da seita dos peripatéticos, e sigo neste ponto a opinião de Meri.

Não há coisa mais bela e mais poética neste mundo do que sejam as estrelas. O sol é um astro egoísta, incômodo, e que demais a mais faz-se de espião e quer intrometer-se em tudo.

O sol causa dores de cabeça, queima as faces as mais mimosas, estraga as mais belas cores, obriga a gente a não sair de casa, rouba-nos o prazer de passar no campo, e gera um aluvião de insetos e mosquitos capaz de morder a todo gênero humano.