Rio, 20 de maio
Domingo passado havia espetáculo no Teatro de São Pedro e no Ginásio Dramático.
Mais longe, num pequeno salão todo elegante, dançava-se e ouvia-se cantar Bouché, Ferranti, Dufrene e a Charton.
A harpa do Tronconi gemia, a flauta de Scaramella trinava como um rouxinol.
Seriam dez horas da noite.
Neste mesmo momento, e no meio desta alegria geral, uma grande catástrofe se consumava.
Uma faísca desprezada crescera, transformara-se em chama, e ameaçava devorar um quarteirão inteiro.
Os sinos dobravam, o povo apinhava-se em torno, a chama enroscava-se ao longo das paredes como uma serpente de fogo, e o incêndio lançava sobre toda esta cena um clarão avermelhado e sinistro.
Fizeram-se atos de heroísmo e de coragem, ações de bravura que passaram despercebidas no meio desta luta terrível do homem com o elemento.
Os ingleses portaram-se com o sangue-frio habitual; os franceses trabalharam com entusiasmo; alguns brasileiros sustentaram a honra do seu nome e os brios nacionais.