Página:Ao redator do diário.djvu/12

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Quem porventura deseje o absolutismo, dorme placidamente embalado pela corrente, e foge de torvar a veia: segue o curso dos acontecimentos. Mas penso eu que se ilude; o sono do povo brasileiro, confiado na virtude de seu monarca é possível; sua servidão, não acredito.

Na América a liberdade foi contemporânea da terra, disse Chateaubriand. Tudo neste solo tem um cunho de independência. A natureza quebrou aqui os antigos moldes e fundiu cousas desconhecidas. Estes mares rejeitaram durante séculos o domínio do homem. A selva disputa ao lavrador com tenacidade sua conquista.

Enfim foram os Estados Unidos que deram à França o exemplo da liberdade, que dali reverberou por toda a Europa. Escapou um canto na extrema meridional, onde o velho despotismo português repastava. Nós lhe mandamos primeiro aviso em 1789 e segundo em 1817.

Assim a civilização vem da Europa para a virgem América; a liberdade vai da América, onde se refugiara desde a antiguidade para a decrépita Europa.

Acredito que o Brasil, destinado a representar no novo mundo as gloriosas tradições da raça latina, não há de esquecer o que deve à sua origem americana. Mas é certo que a própria opulência o dana. Ele esperdiça a liberdade julgando que nunca lha poderão arrebatar; esbanja o tempo, porque a mocidade se lhe afigura eterna; dissipa sua riqueza, confiado neste solo cujas entranhas de ouro jamais se hão de exaurir.

Se o desbarato das forças continuar, não há vigor que resista. Estamos cercados de exemplos palpitantes dessa extenuação precoce da substância nacional. Aprenda neles o Brasil a zelar os tesouros que a Providência lhe confiou.

É tempo.

Não demos razão a esta palavra de Daniel Webster: — Que as esperanças da liberdade repousam unicamente sobre a inteligência e vigor da raça saxônia!

Erasmo.