Página:Apoteosis poetica.pdf/12

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Lá ſe erige mais folida columna,
Que o marmore de Paros;
E longe dos teus golpes, ó Fortuna,
Lá vive a imagem dos Heróes preclaros:
Aſſim reſpeita o tempo os nomes bellos
De Scipiões, de Emilios, de Marcellos.

Entre eſtes vejo o Achilles Luſitano,[1]
Que prodigo da vida,
Foi o açoute do barbaro Africano,
E exemplo raro d’alma eſclarecida,
De que são teſtemunhas nunca mortas
D’Ourique o campo, de Lisboa as portas.

O grande Vaſconcellos vejo armado,[2]
Que arranca, e deſpedaça
O alheio ferreo jugo enſanguentado;
E os ſoberbos Leões forte ameaça;
Da guerra o raio foi, da paz o leme;
America inda o chora, Heſpanha o teme.

Quem he o que entre todos ſe aſſinála
No provido conſelho,
E no valor, e na prudencia iguala
Da antiga Pylos o famoſo velho?[3]
He Pedro, que com hombros de diamante[4]
Foi d’hum, e d’outro Ceo robuſto Atlante.

  1. Martim Moniz, Filho de D. Moninho Oſorio, e Nero do Conde D. Oforio, governou huma das linhas da batalha do Campo de Ourique, onde deo grandes provas do ſeu valor; e depois no anno de 1147, quando ElRei D. Affonſo I. ſitiou, e ganhou Lisboa, morreo valeroſamente nas portas do Caſtello, que ainda conſerváo o ſeu nome.
  2. D. João Rodrigues de Vaſconcellos e Sauſa, ſegundo Conde de Caſtello-Melhor, na guerra da Acclamação ganhou muitas victorias e governou as Armas das Provincias de Trás os Montes, do Minho, o Exercito do Alen-Téjo, e depois o Eſtado do Brazil.
  3. Neſtor o mais prudente dos Gregos.
  4. Pedro de Vaſconcellos e Souſa, Filho de Simão de Vaſconcellos e Souſa, Neto de D. João Rodrigues de Vaſconcellos e Soufa, foi Meſtre de Campo General com o Governo das Armas do Minho, Beira, e Alem-Téjo, Governador, e Capitão General do Eſtado do Brazil Embaixador extraordinario á Corte de Madrid, do Conſelho de Guerra, Eſtribeiro Mór da Princeza do Brazil, &c.