Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/148

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Os rumores da festa que ainda enchiam a cidade batiam contra os altos muros externos do claustro; mas nenhum eco do mundo penetrava já no templo do Senhor.

Decorreu uma boa meia-hora.

Cinco vultos negros, esgueirando-se pelo comprido corredor que separava os vastos dormitórios, entraram a um e um na sala da biblioteca, e depois de trocarem mesmo no escuro um toque simbólico, agruparam-se defronte da pesada porta de vinhático que dava entrada para o cartório. Era este o lugar reservado onde se guardavam os papéis de importância, a escrituração mercantil e o cofre da comunidade, cujos rendimentos cresciam anualmente, aumentados pelas doações régias e deixas particulares.

Os religiosos que esperavam à porta do cartório eram o P. Nunes, reitor; o P. Inácio do Louriçal, que vimos conversar à janela do convento, enquanto duraram as festas, com o jesuíta chegado naquela manhã; o P. Luís Figueira, autor da gramática da língua tupi, o qual em 1607 tinha escapado ao martírio entre os selvagens da Serra da Ibiapaba, na Capitania do Ceará; o P. Domingos Rodrigues, ardente missionário, que havia