Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/205

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sua amiga, e inventava algum folguedo para alegrá-la.

De lastimando-se que estavam, logo começavam de rir e folgar. Abençoadas lágrimas da infância, doce linfa que mana o coração, enquanto puro e virgem, como límpidos orvalhos da manhã da vida! Não conhecessem os olhos que as vertem, aquele outro pranto amargurado, que sangra mais tarde da alma ulcerada!

Veio a adolescência.

João habituado já à solidão e feito com os acidentes do campo, se arriscara até a mata-virgem, e breve soube-lhe dos mais recônditos mistérios. Ninguém melhor que ele seguia a pista do animal, ninguém melhor imitava o silvo da cobra, o assobio da anta, o canto de todos os pássaros. Muitas vezes atraíra o iludido animal, que lhe acudia como ao terno companheiro.

A gente do lugar chamava-o caiporinha, de uma palavra tupi que significa — habitante da floresta; e com efeito o apelido quadrava perfeitamente, porque vindo a falecer-lhe o pai, ele abandonara de maneira a casa paterna, e aí não pôs mais os pés, desde o dia em que saiu órfão. Arranjou então uma miserável palhoça à