Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/95

Wikisource, a biblioteca livre

Um caboclinho de doze anos de idade acudia aos fregueses e ia de um a outro canto, já saltando por cima das mesas com uma agilidade de saltimbanco, já mergulhando como um peixe por entre as gâmbias dos bebedores. Havia na fisionomia desse menino, como em toda a sua compleição, ares de tristeza e abatimento. Na ligeireza de seus movimentos não aparecia a vivacidade alegre própria da infância, mas um certo movimento ríspido e frio como o de um autômato.

Era Martim, o bicho da taberna, e já nosso conhecido.

Mestre Brás, de costume sempre alerta aos menores gestos dos fregueses, estava nessa noite preso de uma preocupação qualquer. Bem profunda e grave devia de ser ela; o giz esquecido na mão inerte já não marcava na folha carunchosa da janela o rol da despesa feita por cada freguês; e coisa ainda mais estupenda, a paga escorregava pelos dedos frouxos, sem o infalível contado e recontado. Se a gente que ali estava a beber e vozear tivesse tempo de reparar nestes sintomas assustadores, acreditara por seguro que o demo dera volta ao miolo do taberneiro.