Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/96

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Afinal, depois de bom esperar, os olhinhos pardos que o judengo tinha pregados na porta, fisgaram-se como dois croques em um sujeito que entrava. O recém-chegado trazia com efeito uma cara de caso. Era homem da plebe, de má catadura e piores obras; parara na penumbra da parte de fora, e apenas viu enfiar-se pelo seu o olhar interrogador e assustado de mestre Brás, levantou a mão direita à altura da face, cerrando-a logo após com o gesto de quem fecha alguma coisa na palma.

O taberneiro pulou no fundo da quartola que lhe servia de tamborete, como se fosse de borracha. Alongou o pescoço por entre os garrafões, e os beiços moveram-se mudamente como soletrando, sem pronunciá-la, uma palavra:

— Filado?...

O sujeito parece que traduziu a palavra pelo simples movimento labial, pois a confirmou com uma flexão de cabeça; e ao mesmo tempo designou com um olhar a Praça do Palácio. Mestre Brás bufou de raiva, armando um murro ao demo; o caboclinho que se achegava na ocasião o recebeu em cheio no estômago e revirou de cambalhota, sem força de soltar um gemido.

— Toma, enguiço de Belzebu, é para o teu tabaco!... Já!... Salta daí! berrou o judengo atirando à criança um pontapé; vai dizer àquele tiro de azêmolas... àquele que ali está restolhando dês trindades, que se ponha ao vento!... Basta de beberrico!