Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/140

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Vaz Caminha ergueu-se, deitando a bolsa sobre a banca:

— Em que vos ofendi eu? exclamou a dama travando-lhe das mãos.

— Vim ao vosso chamado para aconselhar-vos, não para vos dirigir no caminho do mal. Meu ministério, senhora, é da justiça e não das paixões, da lei e não da vingança!

A dama respondeu com uma nobreza repassada de profunda mágoa:

— Nunca sofrestes dores, como as que tenho aqui neste coração transido, senhor doutor; senão seríeis indulgente para estes desvarios, que me pungem mais a mim que a vós mesmo. Já vos não detenho; destes-me a última prova dos homens. Se dos nimiamente bons, como sois, recebo tão duras palavras, que esperar dos outros?...

— Senhora, mercê! Fui descortês, confesso minha culpa; não veio ela d'alma, senão da profissão que não me costumou a fazer salas. Vou satisfazer-vos no que de mim exigis.

— Ah! exclamou a dama. Falai!...

— As leis dos homens nada podem no vosso caso; mas podem tudo as leis divinas. Em Roma, aos pés de Sua Santidade, está o remédio à vossa