Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/98

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O religioso quis afastar-se, mas Dulce arrastando-se de joelhos, travou-lhe do hábito.

— Oh! por piedade, não me desampareis outra vez nesta solidão de minha alma, em que tenho vivido. Não quereis já ser meu; pertenceis ao Senhor? Pois eu virei adorar o Senhor a vossos pés. Me ensinareis a amá-lo, já que não me é dado mais amar-vos, a vós!...

— Cessai de desarrazoar, mulher, e largai-me do hábito!

— Não, não vos deixarei! Repelis-me?... Nem sequer uma palavra de compaixão?... Pois eu serei de agora em diante a sombra vossa! Por toda a parte vos seguirei como alma penada ou remorso vivo! Quando passardes, vos apontarei: “Esse que ali vedes, é meu marido, o qual mentiu a Deus e aos homens...”

Durante estas palavras, o P. Molina debalde esforçava por tirar o hábito das mãos crispadas da moça; mas ela se deixava ir de rastos sobre as lajes que lhe magoavam os joelhos. A dor por fim tornou-se tão aguda, que a mísera, não podendo já resistir, caiu desmaiada.

O frade desapareceu.

Logo após chegou Ramon em busca de Dulce.