— Sim, ela; não vos disse que sou guardada como monja?
— Quisésseis vós!...
— Ui!...
Este gritozinho de susto foi acompanhado do bater do postigo, que fechavam. Um vulto de maiores dimensões apareceu, e outra voz roufenha e pesada deixou cair estas palavras:
— Andai vosso caminho, senhor cavalheiro. Não é prudente se expor à beirada das casas; as telhas podem cair. Andai.
— Andado o tenho, eu, honrado Samuel, para não dizer honrado ladrão; e bem andado, pois me trouxe ele à vossa espelunca.
Aproveitando uma sonata de remoto descante, que ouvia-se para as bandas da Graça, o cavalheiro entoou baixo o princípio de uma cantiga de reis:
Aqui estou à vossa porta,
Acordai se estais dormindo!
— Longe estava eu de supor que fôsseis vós, Sr. D. José; escusai-me a liberdade. Corro a abrir-vos.
O alferes penetrou na toca do velho judeu.