— Honradíssimo Samuel, o negócio é breve; preciso de quinhentos cruzados esta noite, ou antes, neste momento.
— Trouxestes o vale?...
— Não, mas posso assiná-lo aqui; dai-me com que escrever.
— Raquel! disse o velho.
A voz maviosa respondeu dentro:
— Pai!...
— Buscai-me os óculos.
Pela fresta aberta na parede passou a mão a mais alva e mimosa que é possível imaginar; o alferes aproveitando o momento em que o velho estava ocupado a arranjar a mesa, tomou os óculos, e travando dos dedos que os seguravam, beijou-os sem a menor cerimônia. Ao estalo do beijo e do grito que soou dentro, o judeu voltou-se:
— Não passou da ponta do dedo mindinho, digno usurário. Creio que trazeis este tesouro ainda mais aferrolhado do que o outro.
— Este é minha carne; o outro são apenas os ossos, senhor cavalheiro. Sereis pai um dia para me compreender.
— Mas usurário, não; disso podeis ter certeza.