Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/182

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a respeito da empresa que iam tentar, pois não contando com a esperteza do alferes, só o empregava como simples instrumento, indispensável para a execução do seu plano:

— De que traça usareis, Senhor D. José, para obter o santo do Tenente Bezerra, sem que ele suspeite de vós?... Isso é essencial.

A pergunta embaraçou o fidalgo; foi como uma rocha que desabasse sobre os castelos de sua imaginação. D. José, soldado e cavalheiro, prezava em alto grau uma coisa que ele chamava sua honra: palavra de tão vário sentido entre os homens e os povos de todos os tempos. O que lhe pedia Raquel era no seu modo de pensar uma infame traição à pátria e à religião. Se fosse um homem quem ousasse, não já propor, mas somente falar disso como de uma coisa possível, ele o atravessaria incontinenti com sua espada. Mas era uma dama; e a galanteria tolerava esse brinco.

Entretanto ouvindo de Raquel qual seria a recompensa do serviço por ela reclamado, o alferes, refinado namorador, teve uma feliz lembrança. Ele podia inventar uma palavra de santo; arranjar uma falsa cópia da memória do sargento-mor; e assim sem traição, por uma simples esperteza,