Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/185

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— Oh! uma ceia de príncipe, digna de Vossa Mercê.

D. José ergueu-se para sair; mas parou lembrando-se de alguma coisa.

O judeu que parecia esperar essa volta sorriu:

— Meu senhor, não carece de alguma moeda?

— Já que estou aqui, venerável usurário, aproveito a ocasião. Dai cá um cartucho de vinte moedas, que vou passar-vos o bilhete.

Samuel dobrou uma folha de papel, escreveu bem no alto da dobra um vale, não de vinte, mas de cinquenta moedas, que apresentou ao fidalgo. Este riu e assinou.

O judeu contou o ouro, o alferes o meteu na bolsa, muito ancho de si e convencido de ser um fidalgo incapaz de ação feia, que saía dessa casa levando a honra salva; entretanto emprestava dinheiro do usurário a quem no dia seguinte pretendia enganar vilmente.

— Até amanhã, honrado filho de Judá!...

— Uma palavra ainda, Senhor D. José de Aguilar. Pode bem ser que vos tenha vindo à ideia, a vós, nobre senhor, de zombar de uma pobre moça que vos ama, e de um mísero velho, que nada já espera deste mundo.