Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/186

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O alferes fitou os olhos admirados no judeu, espavorido de ver como ele lia-lhe no coração.

— Como vos veio semelhante ideia, Samuel?

— Ambos aceitamos de nossa livre vontade o pacto. A parte de cada um é igual; honra por honra; ventura por ventura; a vossa na terra, a minha no céu. Eu vos jurei na palavra do profeta; jurai vós pelo nome de vosso Deus.

O alferes apanhado de surpresa empalideceu; e sentindo o peso do olhar cintilante do judeu, balbuciou um tíbio juramento.

— A maldição do Senhor caia sobre a cabeça do desleal e perjuro!...

Atordoado pela solenidade dessa imprecação o moço fidalgo ganhou a porta e desapareceu. Daí a meia hora esquecia ele as suas aventuras amorosas na tavolagem de mestre Brás, onde o esperava uma grande surpresa. A primeira pessoa que viu ao entrar foi D. Fernando, que jogava um jogo de Belzebu, fazendo dançar diante dele as mancheias de moedas de ouro, que vinham umas após outras amontoar-se em pilhas junto à sua bolsa.

— Com a breca, até quando vos quer durar essa veia infernal! exclamava Manuel de Melo.

— Não tem que ver!...