Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/197

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preparada pela velha Euquéria. Todo esse resto do dia levou o bom velho em incessante cogitação; parecia que dentro dele se travara uma luta entre dois sentimentos, e o triunfo ora pendia para um, ora para outro. Afinal decidiu-se a vitória; o advogado ergueu-se com a energia de sua resolução, e disse:

— Perdoe-me Deus se faço mal!

Abriu a arca dos papéis; procurou em um dos escaninhos de segredo um velho pergaminho lacrado como um testamento, e depois de olhá-lo por muito tempo, sentou-se ao telônio, e cobrindo-o com outra capa, escreveu no rosto:


Declaro, eu Vaz Caminha, doutor pela Universidade de Coimbra e advogado nesta cidade do Salvador, que receando qualquer desgraça que me possa acontecer, deposito este papel no cartório do tabelião Belmude, para ser aberto depois de minha morte.


Na manhã pois desse dia se encaminhava o bom velho para a casa de Fernando de Ataíde. O fidalgo o recebeu de mau humor, com um modo descortês.

— Que quereis de mim, senhor? perguntou-lhe com rispidez. Não vindes por certo cumprir