Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/23

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e pouco escoavam de sua bolsa para engrossar as pilhas de ouro que brilhavam diante de dois ou três parceiros a quem o azar favorecia com uma veia inesgotável. Via-se porém o fidalgo no desprezo com que enchia o páreo, e na sobranceria e calma em que arrostava os lances contrários.

O sorriso cortês não abandonara um instante o seu lábio; o olhar não contava as moedas perdidas, mas só as que restavam, para mais depressa arriscá-las. Pouco lhe importava o ouro, o que o absorvia todo era só a paixão, o vício, o demônio das cartas. As últimas moedas que acabava de atirar sobre a mesa, não lhe recordaram que eram elas o fim de uma grossa quantia, mas sim, que eram talvez a derradeira mão que jogasse; e esse pensamento o incomodou, e o prendeu ainda mais às cartas.

Debalde lhe dirigiu D. Fernando a palavra; não respondeu, nem mesmo voltou para ele o rosto; nesse instante abria as cartas dadas pelo parceiro da direita; correram as vazas, e o alferes perdeu ainda a mão. Fez um gesto de enfado passageiro que mudou em sorriso; e afastou de si o baralho, que lhe tinham passado, por lhe caber dar as cartas.