Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/240

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no surdo rumor que penetrava naquele antro, algum som amigo.

Desde o momento em que o lançaram na masmorra, o espírito do cavalheiro trabalhava incessante; a inércia física parecia centuplicar a velocidade do pensamento. Com a sua vontade isolada rompia aqueles muros de rocha, ou zombaria da vigilância contínua de seus guardas?... Era o problema insolúvel que provocava a sua poderosa imaginação.

Ouvindo poucas horas depois de achar-se no cárcere a voz de Gil a cantar, o cavalheiro ergueu-se de sobressalto. Percebendo pelo som que o canto vinha de perto, e ia circulando o castelo, imediatamente compreendera o movimento do pajem quando deitara a correr pela praia; conjeturou que o menino fora buscar a canoa para se aproximar dele e talvez pôr-se em comunicação, caso fosse possível. Seu primeiro impulso pois foi lançar-se para a seteira; entre essa e o chão estavam dispostas na muralha como degraus um buraco e um prego, que o cavalheiro suspeitou ser indústria de seu antecessor; graças a esse auxílio pôde galgar a seteira; mas teve uma decepção; porque não conseguiu ver senão uma nesga do céu: