Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/260

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e os lábios entreabertos esperavam a nova dose do generoso licor, que devia continuar tão suave êxtase.

— Depois, Beltrão, depois! Não vai a matar! Descansai por agora as goelas, que tendes que fazer com as ouças. Ali está o respeitável Samuel impaciente por te conversar a respeito de certo negócio que bem sabes!... Hem!... Já te espetam as orelhas com o tinir das brancas, calaceiro!

A impaciência do velho rabino e a importância atribuída por ele ao miserável bicho de cozinha, se explica por certas circunstâncias que é tempo de conhecer.

Cinco anos havia que estavam presos no Castelo do Mar três flamengos, resto da maruja e guarnição de um navio capturado na Ilha de Tinharé por Diogo de Campos. Um deles, Staed, homem audaz, concebera o projeto de evadir-se, cavando por baixo do cárcere uma mina, que fosse ter ao mar; depois de muitos meses de incessante labor, conseguira arrancar uma laje do pavês, e abrir um fosso subterrâneo bastante largo para passar o seu corpo, e profundo assaz para não abater com o peso da construção.