ainda as dez, e já todos os convivas de ambos os sexos flutuavam nos intermundos vaporosos dos sonhos báquicos, sazonados pelos êxtases amorosos. O próprio D. José não obstante a tenção em que viera, se deixara arrastar pelo exemplo sempre contagioso; e se o abandonassem ao seu moto próprio, é quase certo que ali se deixara ficar engolfado nas delícias presentes libadas no copo que empunhava e nos lábios que lhe sorriam. Se a lembrança de Raquel despontasse alguma vez na sua memória, o torpor que o invadia, sem dúvida apagaria a mimosa recordação.
Mas mestre Brás velava; e mais do que ele o velho Samuel, embuçado em amplo e negro manto, e oculto desde muito no vão de uma porta fronteira à taberna. A um aceno seu o taberneiro que pela rótula da janela não o perdia de vista, curvou-se e atirou uma palavra ao ouvido do alferes:
— São horas!...
— Hemm!... bocejou o fidalgo. Quais horas?...
— Raquel!...
— Ah!... sim!... Raquel!...
O taberneiro, sabido e perito na arte da bebedice compreendeu que o fidalgo chegara ao