Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/279

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Ora, pela manhã quando lia o memorial de Diogo de Campos para ajeitar a falsa cópia acudiu-lhe uma ideia. Samuel que tanto insistia por esse documento tinha vistas largas; com a tenacidade e persistência peculiar à sua raça era natural que empregasse para obter o papel, todos os meios ao seu alcance, recorrendo talvez a mais de uma pessoa. Decerto seria esse o meio que tinha para verificar a fidelidade no cumprimento dessa parte da promessa.

— Nada, por segurança ponho-lhe o sequestro! disse consigo D. José.

E escondeu no peito do gibão o memorial, que ainda ali estava; desse modo acautelava duas coisas: a traição de outrem menos honrado que ele, e a prova que porventura pudesse ter o judeu de seu embuste com alguma cópia verdadeira do documento. Dessa forma, o venerável Samuel não tinha remédio senão acreditar na sua palavra, e deixar-se embaçar como um palerma para felicidade de sua filha Raquel e prazer de um honesto fidalgo.

Chegaram à casa da Rua da Palma, e subiram ao sobrado. Samuel, tomando o moço pelo braço, guiou-o pelos largos e escuros corredores; ouviam-se ressoar